Apresentados dentro de duas caixas de madeira com uma frente perfurada, é possível vislumbrar as lombadas dos 30 livros escolhidos, em versões fac-similadas, estando uma das caixas fechada e outra aberta, onde a partir de uma cinta impressa nas obras censuradas os jovens poderão ter acesso a um ‘QR Code’ (um código que é lido pelo telemóvel), que os leva a um excerto da obra proibida ou ao próprio despacho do censor, em textos lidos por actores e actrizes de Coimbra.
A exposição itinerante, concebida pela BGUC, integra as programações oficiais dos 50 anos do 25 de Abril da Universidade de Coimbra e da Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril, estando presentes livros como “Quando os lobos uivam”, de Aquilino Ribeiro, a “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, organizada por Natália Correia, ou o “Quarto Dia”, de Miguel Torga.
Se a maioria das obras escolhidas foram proibidas ou censuradas, há também um caso distinto, o de “Dinossauro Excelentíssimo”, de José Cardoso Pires, que saiu em 1972.
O curador da exposição e director adjunto da BGUC, Maia Amaral, contou, na apresentação da iniciativa, que um deputado ultraconservador, num debate na Assembleia Nacional, usou o exemplo de ter saído “um livro ignóbil chamado ‘Dinossauro Excelentíssimo’” como exemplo da liberdade que se vivia no país. (...)». Continue a ler.
De lá:
Bateu à porta o agente / Mostrou o cartão e disse / Fomos informados. / Entrou / Percorreu a casa toda / Revistou revistou os livros./ Era já tarde / Era a segunda vez./ Disse / Tenha cautela. / Saiu / fechou a porta. / Fechei-me.
(Ana Hatherly, Poesia: 1958-1978, p. 62-63)