no artigo de opinião «Incompetência versus malícia» de Maria Manuel Mota no semanário Expresso desta semana.
Um excerto:
« (...)Pessoalmente,
defendo uma sociedade baseada no conhecimento. Mas, para que este ocupe um
lugar central na sociedade, as instituições que trabalham com e sobre o
conhecimento têm obrigatoriamente que fazer parte dessa centralidade. Isso
leva-nos, inevitavelmente, à universidade que desde a sua origem tem como
missão criar, transmitir e disseminar conhecimento. Podemos pensar que esta é
uma visão elitista, mas, pelo contrário, é uma visão inclusiva. A universidade
está no ápice de todo o sistema educacional e de competências, que é o grande
motor da equidade na nossa sociedade. É para a educação, e para as ferramentas que
esta nos proporciona, que devemos olhar, se quisermos criar mobilidade social e
uma sociedade inclusiva, e desenvolver e sustentar a prosperidade económica. A
universidade tem o potencial de transformar vidas individuais que serão a base
do desenvolvimento das diferentes comunidades.
Mas,
para isso, precisamos de uma universidade dinâmica e inovadora. E, por isso, é
sempre triste quando nos deparamos com a realidade e vemos quão longe desse
ideal está a universidade em Portugal. Os números mais recentes da
Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência mostram que a grande
maioria (68%) dos docentes doutorados nas universidades públicas portuguesas
doutoraram-se na mesma instituição em que lecionam, enquanto as mais reputadas
universidades internacionais consideram que esse valor não deve ultrapassar os
10%. Esta prática de endogamia académica, em que as instituições contratam os
seus próprios doutorados para serem professores, impede a introdução de novas
ideias, indispensáveis à criação de novo conhecimento e coloca as universidades
portuguesas numa posição retrógrada, incapaz de gerar conhecimento inovador e
de ter impacto na sociedade. A boa notícia é que muitas universidades noutros
países já se depararam com este problema e foram capazes de o resolver, criando
medidas claras, transparentes e baseadas no mérito para desencorajar a
contratação de professores formados por elas próprias. Mas, sempre que estes
números são conhecidos (e não melhoram!), aparece uma avalancha de críticas,
muitas delas sugerindo a existência de um sistema corrupto, que permite esta
situação tão danosa para todos. A estes críticos eu responderia: nunca atribuam
à malícia aquilo que pode ser simplesmente explicado pela incompetência. E esta
é mais difícil de corrigir, especialmente se não a admitirmos».
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